Por uma mobilidade mais justa, inteligente e correta para todos
Você sabia que cerca de 3,4 milhões de pessoas, o equivalente à população do Uruguai, se deslocam diariamente da Zona Leste da cidade para o centro? E que os paulistanos gastam cerca de 2 horas e meia em deslocamento? É uma situação de segregação social que precisa ser mudada urgentemente!
Obviamente, com a dificuldade de locomoção, a qualidade de vida dos paulistanos diminui. Trabalhadores ficam menos tempo com seus filhos e familiares e, ao mesmo tempo, não têm tempo para melhorar suas qualificações, para lazer e cultura.
Mas como resolver isso? Primeiro de tudo precisamos pensar em um adensamento urbano correto, com a revisão do plano diretor. Apesar de parecer que o assunto não tem relação com a mobilidade da cidade, ele tem sim. A ideia é compactar a capital, com a permissão de construções mais flexíveis e que proporcionem diferentes classes residirem no mesmo bairro, com moradias mais baratas. Ou seja, mais pessoas perto de seus trabalhos, de seus estudos, podendo se deslocar menos.
Simultaneamente, o investimento privado, principalmente do setor financeiro, precisa chegar aos empreendedores da periferia, para gerar emprego e renda lá também. Assim, ainda mais pessoas poderiam trabalhar perto de suas casas. Na mesma linha, uma alternativa é levar capacitação e empreendedorismo para os bairros mais afastados, a exemplo do projeto “Praça da Cidadania”, que idealizamos em Santo André quando estive a frente do Fundo Social de São Paulo.
Implantamos, por exemplo, cursos de beleza, moda e gastronomia para os moradores e incentivamos o empreendedorismo, gerando capacitação e renda e o melhor: sem necessidade de locomoção. Ou seja, de forma concomitante, fazer o adensamento do centro e levar a geração de empregos para os bairros mais afastados ajudaria muito!
Paralelo a isso, ainda pensando na melhoria na mobilidade da nossa cidade, precisamos, obviamente, melhorar a oferta e a qualidade do transporte público. Mais uma vez a iniciativa privada poderia ser grande aliada.
Outro imperativo é integrar os sistemas. As ruas têm que funcionar para todos: pedestres, carros, ciclistas e transporte público, de modo que a coexistência seja efetiva e segura.
Também é preciso pensar no redesenho e na readequação de nossas calçadas, para que elas se tornem mais funcionais e padronizadas. Hoje, há dificuldade para uma simples caminhada na cidade, além de termos faixas de veículos que não se conversam e um desenho das ciclofaixas incompleto.
Por fim, mas não menos importante, a nossa infraestrutura precisa ser ampliada, tanto para incentivar os grandes transportes quanto para a micromobilidade, de novo com a participação da área privada.
Esses são alguns pontos para que transformemos nossa cidade, deixando-a mais agradável, efetiva, receptiva e funcional, principalmente para a população que mais precisa.
Filipe Sabará, é empresário, especialista em desenvolvimento socioambiental, ex-secretário municipal de assistência social e ex-Presidente do Fundo Social do Estado de São Paulo.
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